Ronaldo Costa

Passados mais de 100 anos, persiste opressão à mulher

No dia 28 de fevereiro de 1909, mulheres saíram às ruas nos Estados Unidos para reivindicar condições dignas de trabalho em fábricas onde a força de trabalho predominante era formada por mulheres. A iniciativa ecoou, e as francesas, no mês de março de 1909, unidas ao movimento socialista, marcharam por direitos iguais na economia e pelo direito de votar.

Dois anos depois, em 25 de março de 1911, um incêndio em uma fábrica têxtil que não oferecia condições adequadas de trabalho nos Estados Unidos matou 123 trabalhadoras, e, a partir dessa data, passaram-se a fazer comemorações em memória das trabalhadoras vítimas do incêndio.

No dia 8 de março de 1917, as mulheres de Petrogrado (hoje São Petersburgo) se mobilizaram na manifestação Pão e Paz, como um dos primeiros atos que antecedeu a Revolução Bolchevique de outubro de 1917.

O fato é que o Dia Internacional da Mulher tem origem em episódios de organização por condições dignas de trabalho, por igualdade salarial, pelo direito ao voto, por condições dignas de vida, por paz, e em homenagem às trabalhadoras vítimas de acidente de trabalho em ambientes inadequados.

Passados mais de 100 anos, persiste ainda a opressão sobre a mulher pelo homem. E isso repercute e faz imperar as condições de desigualdade de trabalho, de condições inseguras e indecentes de trabalho, de diferença de salário, de condições indignas de moradia, de jornadas duplas de trabalho em condições de vida inadequadas.

Toda falta de infraestrutura na moradia e do saneamento básico, no transporte, na segurança, nas condições de alimentação, no acesso à educação, à cultura e ao lazer, no acesso à saúde, tudo que não é ofertado e adequado impacta nas condições de vida das mulheres.

A desvantagem que se impõe até os dias de hoje sobre as mulheres impacta sobre a saúde, e a somatória de múltiplos fatores de risco é causa de desequilíbrios físicos e psíquicos.

O primeiro problema que observamos é a ocupação plena do tempo com obrigações do trabalho e de casa, de forma que o tempo para o cuidado de saúde fica comprometido, o diagnóstico atrasa, o tratamento não ocorre, e o ciclo culmina com perda de chance e de qualidade de vida.

Nos nossos tempos e no nosso território, as reformas trabalhista, fiscal e da previdência vêm impor perda de estabilidade e de direitos, em um mundo em desequilíbrio dominado por relações de consumo, que se impõem para assegurar condições decentes de trabalho, de transporte, de alimentação e de conforto, necessárias para assegurar as energias para o dia seguinte.

Mas não é isso que ocorre, em pleno ano de 2025, além da precariedade das condições de trabalho e de vida, observa-se com regularidade notícias de mulheres presas como reféns, feminicídios bárbaros e diferentes se repetem, como reflexo do patriarcado machista, de relações abusivas e a violência doméstica, que encontra proteção na impunidade e na falta de aplicação a contento das leis, sem que observemos políticas protetivas eficientes para acolher e atender e reconstruir o universo das mulheres vítimas de violência.

Como o dia 08 de março é um dia de luta, que todos os homens e mulheres pactuem por organização de ações em cada local onde se encontrem, para romper com o machismo estrutural, e para assegurar todos os direitos iguais entre homens e mulheres, em um mundo equilibrado, com condições dignas de vida para todas e todos.

Detalhe do cartaz alemão para o Dia Internacional da Mulher, 8 de março de 1914.

Ronaldo de Souza Costa é médico do Trabalho e atual superintendente do Ministério da Saúde, em Mato Grosso do Sul